Publicado em: 13/06/2025
O WP.1 (Working Party 1) da ONU é o Grupo de Trabalho sobre Segurança Viária subordinado à UNECE (Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa), sendo o único órgão permanente da ONU voltado exclusivamente à segurança no trânsito rodoviário. Embora a maioria dos participantes seja composta de delegados da Europa, o encontro contou também com a presença de representantes das Américas, Ásia e África.
Na ocasião, o dr. Álvaro Pulchinelli Júnior , toxicologista e presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica, esclareceu como funciona o exame toxicológico de larga janela, utilizado no Brasil. Ele destacou os benefícios para detectar o uso frequente de drogas, além de seu potencial como ferramenta em políticas públicas de segurança viária e de saúde.
Também presente no evento, o especialista em segurança viária Luiz Otávio Miranda — que tem representado o Brasil em diversas reuniões do WP.1 — explicou como, dentro das normas da ONU, o exame e seus resultados podem servir de base para inspirar recomendações internacionais sobre sua adoção. “O Brasil, com a implantação do exame toxicológico, pode ser uma referência de boas práticas que contribuem para a prevenção em segurança viária”, afirmou.
A apresentação de Pulchinelli, de caráter técnico-científico, despertou grande interesse entre os gestores de políticas públicas de segurança viária. Além de responder a diversas perguntas durante o evento, ele foi abordado informalmente por vários delegados. “Muitas pessoas vieram falar comigo sobre o exame, tanto nas sessões quanto em encontros casuais ao longo dos dias em que estive na Tailândia”, relatou.
Durante sua participação, o médico também anunciou que o Congresso Nacional Brasileiro aprovou a exigência do exame toxicológico para a obtenção da primeira habilitação. A medida chamou a atenção dos presentes, especialmente diante do aumento de sinistros (acidentes) envolvendo jovens no mundo e do reconhecimento da gravidade do problema do uso de drogas nessa faixa etária. Segundo ele, o exame pode atuar como instrumento de prevenção e desestímulo ao uso de entorpecentes não apenas no trânsito.
Luciana Iorio, representante do Ministério dos Transportes da Itália e presidente do WP.1, fez questão de enfatizar a relevância da apresentação brasileira, destacando o potencial da toxicologia forense para a segurança viária. Ela pretende aprofundar o tema na próxima reunião que ocorrerá em setembro, em Genebra, na Suíça, e já convidou oficialmente os representantes brasileiros para participarem do encontro.
“Foi muito inspirador e estimulante ver a aplicação de novas técnicas científicas utilizadas na prevenção ao uso indevido de medicamentos e drogas. É algo que todos os especialistas em segurança viária precisam conhecer”, destacou Iorio.
Brasil em destaque na ONU por sua política pública de combate ao uso de drogas
Esta não foi a primeira vez que o tema ganhou espaço no WP.1. Em setembro do ano passado, durante reunião em Genebra, o coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, apresentou os resultados obtidos com a aplicação do exame toxicológico no Brasil.
Já Luiz Otávio Miranda, há anos alerta o WP.1 sobre essa iniciativa pioneira brasileira. A recente contribuição de Pulcinelli trouxe o respaldo científico necessário para evidenciar a base técnica por trás dessa política pública.
A política adotada no Brasil — que exige o exame toxicológico de larga janela para detectar o uso frequente de drogas nos últimos 90 dias — também será destaque em outro evento internacional.
A 24ª Conferência Internacional sobre Álcool, Drogas e Segurança no Trânsito (ICADTS T2025), que ocorrerá em Alcobaça, Portugal, de 15 a 18 de junho de 2025, incluirá o caso brasileiro nos painéis: 1)Impactos das substâncias na segurança rodoviária 2)Inovações tecnológicas para a detecção de consumo de drogas no trânsito
Para Rizzotto, apesar de a resistência natural, enfrentada por novas políticas públicas, o Brasil demonstrou estar no caminho certo: “Este reconhecimento internacional, que pode até resultar em uma recomendação da ONU para outros países, precisa ser valorizado pelas autoridades brasileiras de trânsito. O Brasil deve se orgulhar de ser, hoje, uma referência mundial no combate ao uso de drogas por motoristas profissionais.”
Entenda melhor o que faz o WP1
O WP.1 (Global Forum for Road Traffic Safety) da ONU é o Grupo de Trabalho sobre Segurança Viária subordinado à UNECE (Comissão Econômica para a Europa das Nações Unidas). Ele é o único órgão permanente da ONU focado exclusivamente em segurança no trânsito rodoviário.
Em que consiste o WP.1?
O WP.1 é um fórum intergovernamental que trata de:
Normas e políticas internacionais de segurança viária
Melhorias legislativas e regulamentares
Harmonização de leis de trânsito entre países
Promoção de boas práticas em segurança rodoviária
Finalidade e importância
A missão do WP.1 é:
Reduzir mortes e lesões no trânsito por meio de recomendações e políticas internacionais.
Apoiar a implementação da Convenção de Viena sobre Trânsito Viário (1968) — um tratado internacional que regula as normas básicas de trânsito.
Orientar países na adoção de políticas eficazes e coordenadas de segurança viária.
Servir como plataforma técnica e política para governos e organizações discutirem soluções sustentáveis e baseadas em evidências.
E crucial para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente o ODS 3.6, que visa reduzir à metade as mortes e ferimentos globais por acidentes de trânsito até 2030.
Países e participantes
O WP.1 é aberto a todos os Estados-membros da ONU, embora esteja sediado no âmbito da UNECE (que abrange principalmente países da Europa, América do Norte, Ásia Central e algumas partes da Ásia Ocidental).
Participam regularmente:
Países da Europa Ocidental e Oriental
Rússia, China, Japão, Coreia do Sul
Estados Unidos, Canadá
Alguns países da América Latina, África e Ásia
Organizações internacionais e ONGs também têm status consultivo (ex: FIA, IRF, WHO, Global NCAP)
A participação varia de reunião para reunião, mas muitos países em desenvolvimento também participam, especialmente os interessados em adaptar suas leis de trânsito às normas internacionais.
Fonte: Estradas
